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Angola: Marcha para exigir reparação à Build Angola

Lusa | cvt
26 de setembro de 2020

Duas centenas de lesados pela Build Angola marcharam este sábado em Luanda. Exigem reparação, numa burla em que alegam estarem envolvidos gestores públicos angolanos e valores superiores a 200 milhões de dólares.

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Foto: picture alliance/J. Greve

Na marcha realizada este sábado (26.09) em Luanda, os lesados exigiam reparação. A Build Angola teve sob sua tutela a construção de diversos condomínios residenciais nas províncias angolanas de Luanda e Bengo, mas dezenas de famílias dizem ter sido burladas e o sonho da casa própria não saiu do papel.

A marcha teve início no largo da Mutamba, com os manifestantes a envergarem camisetas brancas com a palavra "Basta!" e a cumprirem um rigoroso distanciamento social.

"Queremos justiça" apelaram os cerca de 200 lesados durante o curto trajeto que os levou até à marginal de Luanda, concentrando-se em frente à sede do Banco Nacional de Angola.

"Ouçam a voz dos cidadãos" e "são angolanos a matar sonhos de angolanos", gritava-se através do megafone.

Era Josina Sango, de 43 anos, dando voz à indignação dos lesados que, sem casas e sem dinheiro, exigem à justiça reparação pelos danos causados.

Caso arrasta-se há 13 anos

Foi assim que exprimiu a sua revolta pela burla que se arrasta há 13 anos, sem desfecho à vista.

O seu caso envolve a perda de cerca de 860 mil euros.

Em 2009, a mãe quis comprar casas para os cinco filhos, fez os contratos, pagou, mas nada foi construído, contou Josina Sango à Lusa, salientando que há pessoas que contraíram créditos que vão pagar até 2034.

Depois de a juíza que estava com o caso ter sido nomeada desembargadora, Josina Sango teme que o processo sofra novas demoras e foi isso também que levou os lesados a manifestarem-se em Luanda.

Angola - Uferstraße in Luanda
Banco Nacional de Angola em LuandaFoto: DW/N. Sul d'Angola

Papel das instituições públicas angolanas

Josina Sango afirmou que, "ao contrário do que se tenta dizer", não foram burlados por brasileiros: "fomos burlados por angolanos, gestores de instituições públicas que são sócios de empresas ligadas à Build Angola".

O mesmo garante o coordenador da comissão que representa os lesados, Hélio Silvestre.

"Temos de desmistificar o facto de os envolvidos serem brasileiros, 95% são angolanos e gestores públicos", garante o responsável que investiu - e perdeu – cerca de 198 mil euros no projeto Bem Morar – sob tutela da empresa brasileira Build Angola, em 2007.

Esperança escassa

Rosa Esteves, de 69 anos, juntou-se ao protesto em representação do irmão, Amândio Esteves já falecido, também ele vítima de burla num projeto habitacional.

"Estou aqui por ele e por todos aqueles que estão doentes e têm dívidas [por causa da Build Angola]. Esta é uma causa justa", declarou à Lusa.

Mónica Briffe tem 34 anos e investiu, em 2010, 84 mil euros no projeto "Nosso Lar" que "não deu em nada".

"Íamos ao terreno e nunca começaram a construir nada. Depois, os brasileiros desapareceram e os angolanos não tinham respostas para nos darem", disse Mónica Briffe, lamentando que os pais do então jovem casal, que ajudaram a financiar a casa, tenham também sido prejudicados.

Por já terem passado dez anos, Mónica Briffe tem pouca esperança de algum dia reaver o dinheiro investido, mas é uma das lesadas que tem um processo a correr os seus trâmites em tribunal.  

Mais de mil afetados

A burla afeta mais de mil pessoas, várias delas já falecidas, num litígio com empreendedores brasileiros e angolanos. Em 2018, os lesados da "Build Angola" que envolve vários projetos habitacionais apresentaram um processo cível em tribunal contra os promotores dos empreendimentos na tentativa de reaver os 197 milhões de euros investidos.

Este sábado (26.09), dia em que se assinalam três de anos de governação do Presidente João Lourenço, Luanda é palco de manifestações. Além da dos lesados, várias organizações da sociedade civil agendaram uma marcha contra o desemprego.

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