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Cumprimento da "cartilha" ocidental para facilitar apoios?

5 de fevereiro de 2020

As opiniões dividem-se. Há quem ache que o combate à corrupção de João Lourenço não levará os parceiros a abrirem os cordões à bolsa. Mas também há quem ache que sim, dependendo contudo da dimensão do combate.

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Foto: Colourbox/L. Dolgachov

O "calcanhar de Aquiles" do Governo de João Lourenço é a economia. O Executivo angolano não dá sinais de estar a saber lidar com a crise económica que está a sufocar as massas. O Presidente precisa de investimentos e apoio financeiro estrangeiros para "carburar" esta máquina.

Mas, por princípio, os parceiros de relevo exigem contrapartidas como transparência, boa governação e combate à corrupção. A bandeira maior de João Lourenço, a luta contra a corrupção, seria em certa medida uma resposta à "cartilha" do Ocidente?

João Lourenço, Präsident von Angola, im Gespräch mit DW
João Lourenço, Presidente de AngolaFoto: DW/M. Luamba

Aslak Orre, politólogo especializado em boa governação, acredita que o plano do Presidente é melhorar a imagem internacional de Angola. "Mas não sei se ele acha que os investimentos vão fluir para Angola por causa de uma melhoria da imagem do país", diz Orre. "Porque se olharmos para a história [do país], o que atraiu o investimento foi o petróleo, o grande poder de compra do Estado e os angolanos ricos, e isso aconteceu apesar da fama internacional de corrupção que Angola já tinha".

"O que reduziu o investimento externo a partir de 2015 foi a redução do valor do petróleo, o mau ambiente de negócios e a grande carga da dívida do país. Angola deixou de ser um paraíso para investimentos. Por isso, um simples 'makeover' da imagem não vai resolver esses problemas graves, e João Lourenço deve estar consciente disso", comenta o politólogo.

Cumprimento da "cartilha" visa obtenção de apoio

Já o economista Manuel Muanza acredita, sim, que João Lourenço queira, com a sua campanha, granjear simpatias para obter vantagens. Muanza recorda que o país perdeu investimentos devido ao tipo de governação que vigorou até 2017, com o Presidente José Eduardo dos Santos.

O objetivo de Lourenço, segundo o economista, seria atrair investidores para a estabilização do país, criar emprego e diminuir a dependência do petróleo. Mas até que ponto funcionaria esta estratégia?

Frankreich Cannes | Filmfestspiele in Cannes -  Isabel dos Santos
Isabel dos Santos, o alvo principal do escândalo de corrupção "Luanda Leaks"Foto: Getty Images/E. McIntyre

"Vai depender dos métodos que utilizar. Até agora, há uma visão de que o combate à corrupção é seletivo, porque há um grupo que está a ser perseguido, quando na verdade este grupo aparentemente é apenas uma família [e] a governação anterior foi construída por um partido político cujos dirigentes e alguns quadros intermédios beneficiaram de esquemas, e aparentemente estão impunes até aqui."

A ONU recomenda o fortalecimento do combate à corrupção como forma de propiciar um ambiente económico e regulatório mais propício ao investimento. Em janeiro, o organismo previu, no seu relatório sobre a Situação Económica Mundial e Perspetivas, que Angola ainda vai continuar em recessão em 2020, com um crescimento negativo de 1%, e que deverá começar a crescer em 2021, com uma expansão de 1,5%.

Analista: JLo quer é manter-se no poder

Mas as intenções de João Lourenço merecem outra interpretação de Aslak Orre: "Creio que as sanções internacionais que limitavam o espaço de manobra de alguns dirigentes angolanos, tal como o que está a acontecer com a Isabel dos Santos agora e como aconteceu com Manuel Vicente, está a assustar a elite angolana."

"Então, mais do que limpar a imagem do país para atrair investimentos, acho que é importante para João Lourenço garantir a estabilidade desta elite empresarial do MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola], já criada desde o tempo de José Eduardo dos Santos, e é a tal elite da qual João Lourenço depende politicamente", acredita o pesquisador.

E é neste momento que João Lourenço atinge o auge da sua campanha, recebendo esta semana a visita da chanceler alemã, Angela Merkel. Luanda espera o reforço dos laços económicos, e o entendimento de alguns analistas na Alemanha é de que "Berlim reagiu positivamente a isso [luta contra a corrupção]".

Cumprimento da "cartilha" ocidental para facilitar apoios?

Sobre a aproximação, o economista Manuel Muanza entende que, "apesar de todas as dificuldades que provêm da história recente do país, apesar das resistências internas do país ao programa que ele está a tentar impor, apesar das contradições das estratégias que está a adotar, há realmente um olhar positivo que vem de fora, que está constantemente a ser inscrito em relatórios de entidades insuspeitas especializadas."

"Quando uma potência europeia se mobiliza para apoiar um determinado país que está a realizar reformas é porque há sinais de que algo está a ser bem feito", conclui o economista.

Nádia Issufo
Nádia Issufo Jornalista da DW África
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