Angola: Falta de dinheiro condiciona Fórum Intercabindês
7 de junho de 2022O Fórum Intercabindês - ou uma reunião alargada de cabindas, como tem sido denominado o encontro - pretende reunir várias sensibilidades da província, desde forças de segurança a organizações da sociedade civil e inclusive membros da Frente de Libertação do Estado de Cabinda (FLEC), a organização independentista do enclave de Cabinda. O objetivo é que, em conjunto, encontrem soluções ou propostas para apresentar ao Governo angolano sobre a situação no enclave.
Mas realizar este encontro não está a ser fácil. Apesar da vontade dos intervenientes, que querem sentar-se à mesa com o Governo para a resolução do conflito, faltam condições financeiras. O general José Sumbo, membro do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e um dos intervenientes diretos, revelou que, neste momento, estão à espera do apoio do Governo angolano para financiar o encontro, apesar de o Executivo não mostrar interesse.
"A reunião inter-cabindesa é um encontro entre os cabindas que vai levar os mesmos a convergirem as ideias, depois de discutidas, e posteriormente levá-las ao Governo angolano, como propostas. Mas a reunião não saiu até agora, por falta de dinheiro. O Governo, que deve financiar, está a dar muitas fintas", afirma.
O general Sumbo fala em aproveitamento da parte de alguns dirigentes do MPLA, que acusa de quererem a todo custo tirar dividendos sobre a situação de Cabinda. "A questão de Cabinda devia estar no centro das preocupações do Governo", frisa. "Infelizmente, a equipa que apoia o Presidente não vê a coisa assim e apresenta outras questões. Sei como MPLA e sei como alguns dirigentes são. Enquanto não houver interesse do Governo do MPLA sobre essa situação, terão muitas dificuldades em caminhar".
Uma "vaquinha" entre os cabindas?
O politólogo Olívio N'Kilumbo lamenta que exista um grupo bem identificado que quer se apoderar do enclave, devido às suas riquezas: "Parece que há um grupo específico que quer ficar com esse espaço onde há uma que luta que leva à morte, orfandade e desgraça. Não se consegue perceber como zonas com imensos recursos, são ainda zonas com extrema pobreza", aponta.
Em Cabinda, muitos estão céticos e não acreditam num apoio do Governo angolano para a realização deste encontro, uma vez que reina cada vez mais o silêncio relativamente ao problema de Cabinda.
Enquanto isso, há quem defenda a angariação de fundos - a chamada "vaquinha" - entre os cabindas, para concretizar o fórum. O empresário e militante do MPLA Francisco Viana entende que não há necessidade de se atrasar um processo só porque o Governo não mostra interesse em financiá-lo.
Além disso, acrescenta, "o Governo vai ter grandes dificuldades em apoiar. Os cabindas têm muitos amigos na França, na Bélgica e até nos Estados Unidos da América. Portanto, não se pode atrasar um processo destes, só porque o Governo não dá".
Há duas grandes correntes de opinião que mobilizam argumentos sobre a situação de Cabinda: a da autonomia e a da independência. Segundo a corrente da autonomia, Cabinda, sendo um enclave, tem um percurso histórico distinto das demais parcelas que compõem o território nacional, com hábitos e costumes distintos. Deve, por isso, continuar a ser uma província, mas com um estatuto especial para efeitos de utilização de receitas. Já a corrente da independência, defendida pela FLEC e por uma importante franja da sociedade civil, entende que Cabinda merece ter uma oportunidade de expressar a sua autodeterminação, removendo as barreiras constitucionais.