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Angola: José Eduardo dos Santos velado em Luanda

Lusa
21 de agosto de 2022

Familiares e dezenas de populares velaram José Eduardo dos Santos no sábado, numa cerimónia marcada pela presença do regime e pela ausência das mediáticas filhas do ex-Presidente. Este domingo, poucos estiveram no local.

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Angola Totenwache José Eduardo dos Santos
Foto: AP photo/picture alliance

As primeiras horas de velório do corpo do ex-presidente angolano José Eduardo dos Santos, na sua residência oficial, em Luanda, foram marcadas pela presença de poucos cidadãos anónimos junto ao local. O corpo do ex-Presidente angolano foi preparado na manhã deste domingo para os próximos dias de velório, de modo a que as pessoas possam "fazer o óbito", como é designado na tradição angolana.

Os restos mortais serão depois transportados para o mausoléu que homenageia o primeiro Presidente de Angola, Agostinho Neto, no dia 27 e no dia seguinte deverá ser feita uma cerimónia fúnebre, ocasião em que José Eduardo dos Santos completaria 80 anos. A data das cerimónias deverá coincidir com o anúncio dos primeiros resultados das eleições gerais, que se realizam no dia 24.

Junto à sua residência, na zona do Miramar, foi colocado um detetor de metais e estão vários funcionários estatais, entre forças de seguranças e elementos do protocolo de Estado. No entanto, não foram avistados muitos cidadãos anónimos a visitar o local.

Angola Luanda | Ankunft des Leichnams des ehemaligen Präsidenten José Eduardo dos Santos
Restos mortais de José Eduardo dos Santos chegaram a Luanda no sábado (20.08)Foto: António Cascais/DW

Tradição angolana

Durante os "dias de óbito", a tradição angolana exige que a família tenha as portas da casa abertas a todos, com comida e bebida para quem preste homenagem ao morto. A tradição leva mesmo, numa cidade com elevados níveis de pobreza como Luanda, a que muitos angolanos procurem estas ocasiões para fugir à fome endémica. Nesses momentos, as casas onde se fazem o óbito enchem-se de gente, com filas à porta, nos casos de pessoas mais conhecidas nos bairros, algo que ainda não sucedeu junto ao palácio.

Perto da zona, alguns meninos de rua passeavam com bandeiras e chapéus do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). Questionados pela agência Lusa, limitaram-se a dizer que receberam esse material de campanha num quarteirão próximo.

No sábado, familiares e dezenas de populares juntaram-separa velar José Eduardo dos Santos, desta vez com corpo, numa cerimónia marcada não só pela presença do regime angolano, mas também pela ausência das mediáticas filhas do ex-presidente. 

O velório decorre na residência oficial do antigo chefe de Estado, uma enorme mansão localizada no Miramar, bairro nobre da cidade de Luanda, num espaço decorado para o efeito, onde o cónego Apolónio Graciano celebrou uma cerimónia fúnebre, durante a qual pediu "eterno descanso" para José Eduardo dos Santos, cujo corpo foi disputado em tribunal por duas alas da família. 

Ainda antes da chegada da urna, alguns curiosos concentravam-se já junto à célebre residência na esperança de se despedirem do homem que governou Angola durante 38 anos. Do lado de dentro, vestidos de negro, vários membros do executivo e do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) vieram prestar a última homenagem a José Eduardo dos Santos, presidente emérito do partido, e apresentar as suas condolências à viúva, Ana Paula dos Santos, e aos três filhos desta, bem como a um núcleo familiar restrito. 

Angola Totenwache José Eduardo dos Santos
Em julho, velório decorreu sem a presença do corpo, em LuandaFoto: AP Photo/picture alliance

Filhos expressam mágoa e ponderam queixa

Do lado de fora, gritava-se "Dos Santos, amigo", à medida que os populares se alinhavam em fila para, também eles, poderem entrar na mansão que sempre lhes esteve vedada e prestar tributo ao antigo chefe de Estado. Tiago Cristóvão, líder associativo, foi um deles. "Entendemos que tínhamos de cá vir e acompanhar o camarada presidente, nós saímos do aeroporto para aqui", disse à Lusa, invocando a "solidariedade para com a família" para a decisão de comparecer no velório. 

Mas nem toda a família recebeu hoje solidariedade. Os cinco filhos mais velhos de José Eduardo dos Santos -- entre os quais as filhas Isabel e Tchizé dos Santos - afirmaram desconhecer que o corpo do pai tinha já sido entregue à viúva e ponderam queixar-se ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos. 

Expressaram, através das redes sociais, a sua mágoa por não poderem despedir-se do pai na capital angolana, onde não vão praticamente desde que o sucessor de José Eduardo dos Santos, João Lourenço, assumiu o poder, em 2017, e que, no âmbito da combate à corrupção que ergueu como bandeira do seu mandato, empreendeu uma luta que atingiu parte da família dos Santos e alguns dos seus colaboradores mais próximos. 

Isabel dos Santos está a braços com a justiça angolana e Tchizé dos Santos, que seguiu o pai na carreira política e foi deputada do MPLA, diz temer pela vida se regressar a Angola. As filhas batalharam na justiça espanhola contra a entrega do corpo a Ana Paula dos Santos. 

Mas também Filomeno dos Santos, filho que vive em Luanda, onde aguarda recurso de uma decisão judicial que o condenou a cinco anos de prisão, não participou no velório organizado pelo governo angolano, que quer realizar um funeral de Estado nos próximos dias e apoiou as pretensões da viúva contra a vontade dos filhos mais velhos. 

Tiago Cristóvão manifestou o desejo de que Governo e família encontrem uma maneira de apaziguar a situação: "Pedimos ao camarada presidente João Lourenço para que volte a apelar para que os filhos cá estejam e venham acompanhar o seu pai até à sua última morada", declarou à Lusa. 

Exéquias fúnebres de José Eduardo dos Santos

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