Angola: Como evitar mais uma paralisação na Função Pública?
24 de maio de 2024Erick Jonathan diz que não desiste da luta. O sindicalista está a ajudar nos preparativos, em Cabinda, da terceira fase da greve da Função Pública, com início previsto para 3 de junho.
As centrais sindicais reivindicam melhores salários e condições de trabalho. A segunda fase decorreu de 22 a 30 de abril e a terceira deverá durar ainda mais tempo - ao todo, 12 dias.
Em entrevista à DW, Erick Jonathan, em nome das três centrais sindicais em Cabinda, diz que confia que a luta trará frutos.
"Num país como o nosso, não podemos ganhar nada sem lutar. Por isso, estou ciente que veremos os frutos dessa luta no futuro, porque a lei deve ser respeitada e os trabalhadores devem ser dignificados", apela.
Governo acusado de ignorar reivindicações
O silêncio do Executivo sobre as reivindicações dos funcionários públicos é o que motiva a Central Geral de Sindicatos Independentes e Livres de Angola (CGSILA), a União Nacional dos Trabalhadores Angolanos - Confederação Sindical (UNTA-CS) e a Força Sindical - Central Sindical (FS-CS) a continuar o protesto.
João Marques, professor do ensino secundário, apoia esta luta. Lamenta que a situação socioeconómica das famílias angolanas piore dia após dia. Ainda este mês, o Banco Nacional de Angola reviu em alta a inflação para este ano, para os 23,4%.
"Eu acho que essa greve é bastante justa, na medida em que hoje vivemos um ambiente social crítico, o kwanza ficou desvalorizado, os funcionários públicos perderam o poder de compra, os salários que são pagos já não consubstanciam a realidade atual", defende o professor.
A greve tem, no entanto, um impacto negativo na vida dos cidadãos na província, comenta o professor universitário Alberto de Assunção.
Ele defende um diálogo franco entre as partes: "É preciso que haja um diálogo desapaixonado, pondo de parte as ideologias partidárias, porque nenhum partido se deve sobrepor ao povo. Todavia, a resolução está nas mãos do Governo", frisou.
As centrais sindicais apresentaram ao Presidente angolano, João Lourenço, em setembro passado, um caderno reivindicativo, a exigir o aumento do salário mínimo nacional, dos atuais 32.000 kwanzas (cerca de 35 euros) para 245.000 kwanzas (cerca de 268 euros).
A proposta foi, entretanto, "flexibilizada" para 100.000 kwanzas (cerca de 109 euros), com um reajuste do salário da Função Pública na ordem de 250%, além da redução em 10% do Imposto sobre o Rendimento do Trabalho (IRT).