Angola: Ativistas pedem auditoria do combate à Covid-19
21 de julho de 2020Ativistas ouvidos pela reportagem da DW África reclamam da aparente falta de condições adequadas nos lugares escolhidos pelo governo do Kwanza Norte para acolher os doentes de Covid-19. O Governo central disponibilizou 75 milhões de kwanzas - o equivalente a 114 mil euros - para que a província enfrentasse o coronavírus. O destino dos recursos está a ser questionado por alguns ativistas ouvidos pela reportagem.
O ativista Vidinic Hebo defende uma auditoria na gestão dos recursos públicos provinciais, especialmente nos fundos destinados ao combate da pandemia no Kwanza Norte. Hebo diz que a doença acabou gerando oportunidades perigosas para se ver a pandemia como um negócio.
"É preciso dizer quanto tem, quanto não tem e como se vai combater a pandemia. Se não existe dinheiro, que o digam. Como já sabemos, as pessoas que governam desde 1975 têm sempre esse problema de gestão, nunca falam a verdade”.
O professor do ensino secundário e politólogo Manuel Gonga sugere uma auditoria ao governo da província, porque não estaria claro se os recursos estariam a ser aplicados da forma planeada. "Os 75 milhões de kwanzas aqui no Kwanza Norte, desconfia-se que não terá tido o fim apropriado. Daí que nós, sociedade civil, queremos uma auditoria . Infelizmente o governo não aceita, e não temos esta possibilidade porque não temos essa autonomia”.
O sindicalista João Pedro vai na mesma linha. Para ele, falta transparência na gestão dos recursos, e lamenta um eventual desvio de recursos exatamente no Kwanza Norte. Depois de Luanda, a província é a área onde população mais padece devido à pandemia - com 18 casos de infecção pelo novo coronavírus. "Até [sobre] o dinheiro da Covid-19, ninguém sabe explicar. Onde meteram? Será que querem acabar connosco?", questiona.
"Passem à investigação”
Apesar das queixas e do discurso de oposição quanto à forma de gestão dos recursos dedicados ao acolhimento das pessoas infetadas pelo coronavírus, não há nenhum pedido formal de auditoria.
O governador da província, Adriano Mendes de Carvalho, respondeu que não há nada a esconder da imprensa, mas cobrou que os que questionam a falta de transparência "passem ao processo de investigação", porque "não custa nada".
"Os dados estão disponíveis via Internet, sistema de finanças... Você pode abrir e vai ver como se gastou e como é que não se gastou. Agora, a classe jornalística tem que se habituar a investigar. Os equipamentos que nós comprámos… Logicamente comprámos, mas nunca é o suficiente, senão o Governo angolano já não estaria a adquirir diariamente toneladas e toneladas de medicamentos. Os aviões chegam diariamente", disse.
Uma fonte do Gabinete Provincial da Saúde local - que não aceitou gravar entrevista nem se identificar - revelou à DW África que o Ministério da Saúde de Angola colocou recentemente à disposição da província mais 10 milhões de kwanzas (o equivalente a mais de 15 mil euros) para custear outras despesas relacionadas à Covid-19. Os recursos, entretanto, não são suficientes.
A Comissão Interprovincial para o Combate ao Coronavírus deve a um empresário local do setor hoteleiro mais de 40 milhões de kwanzas (o equivalente a 61 mil euros). Há dívidas também relacionadas à alimentação de membros da comissão e de pacientes.