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Alcides Sakala: "Estamos perante terror do Estado" em Angola

António Cascais23 de junho de 2016

Porta-voz da UNITA comenta clima de intolerância política. Oposição queixa-se regularmente de ataques alegadamente perpetrados por militantes do partido do poder, o MPLA.

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Foto: Cristiane Vieira Teixeira

No fim-de-semana passado, um confronto entre militantes do MPLA e da UNITA, em Quimbele, na província do Uíge, resultou na morte de um militante da UNITA. 12 pessoas ficaram feridas, três das quais em estado grave.

Em maio, três pessoas morreram, em ataques a uma comitiva em que seguiam deputados da UNITA, na província de Benguela. Outras três ficaram feridas, segundo as autoridades. De acordo com o maior partido da oposição, os atacantes seriam apoiantes do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), no poder.

Em entrevista à DW África, ao telefone, desde Luanda, o Secretário para as Relações Exteriores e porta-voz da UNITA Alcides Sakala diz que o partido está preocupado com os últimos desenvolvimentos no panorama político angolano.

DW África: Como avalia esta situação?

Alcides Sakala (AS):
O quadro é, de facto, preocupante. A UNITA tem reiteradamente feito apelos à comunidade internacional alertando para a gravidade destes actos, numa altura em que o nosso partido continua empenhado em dar a sua contribuição para aprofundarmos o processo democrático angolano.

DW África: Na sua opinião, a quem interessa atacar deputados? E porquê?

AS: Estes ataques, que ganharam intensidade nos últimos seis meses, enquadram-se numa lógica que, no nosso entender, obedece a uma estratégia de provocar o medo, criar o pânico entre as pessoas. Por outro lado, obedecem a uma estrutura de comando.

DW África: Já aconteceram outros ataques deste tipo?

[No title]

AS: Houve ataques contra deputados da UNITA no Cuando-Cubango e na localidade de Capupa, em Benguela. No dia 18, no Quimbele, militantes do partido no poder, o MPLA, atacaram militantes da UNITA. Ao longo de todos estes anos foram acontecendo incidentes graves.

O silêncio do Executivo angolano e do próprio chefe de Estado, que não condenam estes actos, é entendido por nós como uma forma de encorajamento destas ações que procuram criar medo em quase todo o país.

DW África: A UNITA tem pedido inquéritos rigorosos. Já foram apuradas responsabilidades?

AS: Ainda não. Infelizmente, nada tem sido feito neste sentido. E o Ministério Público nunca se pronunciou contra estas ações. Isto preocupa a direcção da UNITA, porque estes ataques estão a ceifar vidas humanas no país e tendem a intensificar-se. Este quadro não vai alterar-se nos próximos tempos. Estamos perante uma situação de terror do Estado.

DW África: Há quem afirme que as provocações são mútuas, que os próprios partidos da oposição que são atacados também têm culpa. Como responde a estas acusações?

AS: Isto é um discurso falacioso, tendencioso, de quem quer desviar a atenção deste problema concreto. Temos feito apelos de forma reiterada porque somos nós as vítimas.