Adama Barrow: de empresário à presidência da Gâmbia
20 de janeiro de 2017Adama Barrow foi o grande vencedor das eleições presidenciais de dezembro. A eleição abriu um difícil capítulo para o novo Presidente do pequeno país africano. O Presidente cessante, Yahya Jammeh, mostrou resistência em deixar o poder e Adama Barrow, por razões de segurança, procurou refúgio no Senegal.
Foi na Embaixada da Gâmbia no Senegal que Adama Barrow tomou posse esta quinta-feira (19.01) como Presidente. Ao mesmo tempo as tropas africanas cruzavam a fronteira do Senegal ameaçando com uma intervenção militar, para obrigar Yahya Jammeh a deixar o poder.
Entretanto, as discussões dos Presidentes da Mauritânia e da Guiné, esta sexta-feira (20.01) em Banjul com Yahya Jammeh para o convencer a sair do país e a ceder o poder a Adama Barrow, ainda prosseguem, seis horas depois da expiração do ultimato de uma força da CEDEAO.
A entrada na política
Adama Barrow entrou na política depois da detenção de altos funcionários do Partido Democrático Unido terem sido detidos em julho.
O empresário conseguiu unir sete partidos da oposição e um candidato independente para enfrentar Yahya Jammeh, há 22 anos no poder, nas últimas eleições presidenciais.
Os gambianos deram a vitória a Barrow, que conseguiu 263.515 votos (45%) contra os 212.009 (37%) de Jammeh, pela Aliança para a Construção e Reorientação Patriótica.
Apesar de a vitória ter sido uma surpresa, o próprio Barrow parecia olhar para o futuro quando dizia à DW, antes do escrutínio, que o país precisava de uma mudança. "As infraestruturas em 1975 eram melhores do que são agora. A rede rodoviária na capital é muito má”.
Se há seis meses dificilmente alguém teria reconhecido Barrow na rua, agora a sua imagem está por todo o lado. Como Presidente da Gâmbia quer melhorar a economia do país e acabar com os abusos dos direitos humanos.
Adama Barrow também prometeu deixar a presidência em três anos para impulsionar a democracia no país.
Da Londres à Gâmbia
Adama Barrow é dono de uma agência imobiliária, desde 2006. Sem qualquer envolvimento na política chegou a apresentar-se como viciado no trabalho: "Trabalho 12,13,14 horas por dia”, disse à AFP.
Barrow viveu três anos e meio em Londres, onde estudou e foi segurança na loja Argos. Uma experiência que o faz entender a atração dos jovens gambianos pela Europa. O fraco desempenho económico e a supressão que marcaram os anos de Jammeh no poder levaram milhares de pessoas a arriscar a travessia no Mar Mediterrâneo, em busca de um futuro melhor. Em 2016, mais de 10 mil jovens fugiram do país.
Adama Barrow é um muçulmano devoto. Tem duas mulheres e cinco filhos.
A crise na Gâmbia não está a afetar Barrow apenas politicamente, mas também pessoalmente. O filho de oito anos, Habibu Barrow, morreu recentemente depois de ter sido mordido por um cão. Adama Barrow faltou ao funeral. Foi aconselhado a permanecer no Senegal por motivos de segurança.
Gambianos na Alemanha ansiosos
A situação na Gâmbia tem sido acompanhada pelos refugiados gambianos na Alemanha – estimados em 14.500. À DW, General, nome fictício, mostra-se "assustado” e confessa estar sempre a pensar no seu país e no que pode acontecer.
"Telefono ao meu irmão todos os dias quando acordo para saber se está tudo bem. E à noite pesquiso e leio notícias de lá. Às vezes nem consigo dormir, tenho de ler sobre o que está a acontecer”, afirma o refugiado de 30 anos.
Brigitta Varadinek nota que tem havido algum receio mas também otimismo. Varadinek é fundadora da Bantabaa, uma associação que dá aconselhamento legal, cursos de formação e aulas de alemão a refugiados da Gâmbia em Berlim.
Mesmo depois de Jammeh ter voltado atrás na promessa de aceitar a derrota depois das eleições, os refugiados, diz Varadinek, "permaneciam otimistas e diziam ‘agora vai ter de sair'”.
Carlos, nome fictício, saíu há três anos da Gâmbia e confessa que continua a sentir "medo até ouvir que Jammeh foi apanhado ou que se foi embora”.