Acordo de Conacri "simboliza impasse político"
14 de dezembro de 2017Para esta quinta e sexta-feira (14 e 15 de dezembro) estão marcados protestos em Bissau. Os partidos da oposição deverão voltar a sair à rua para exigir a demissão do Governo guineense e o cumprimento do Acordo de Conacri.
Além disso, os principais líderes políticos guineenses reúnem-se nos próximos dias na Nigéria para discutir a crise política na Guiné-Bissau. A reunião foi convocada pelos Presidentes do Togo e da Guiné-Conacri, Faure Gnassingbé e Alpha Condé respetivamente, antecedendo a conferência de chefes de Estado e de Governo da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, a ter lugar na capital nigeriana, Abuja.
Nas vésperas do encontro, o académico Carlos Lopes considera que a prioridade deve ser a organização das próximas eleições, para que sejam íntegras.
Em entrevista exclusiva à DW, em Lisboa, o economista guineense comenta que "neste momento, o Acordo de Conacri é uma espécie de simbolismo do impasse político na Guiné-Bissau".
Sem apontar nomes, Lopes afirma que o problema está nos atores políticos.
"Precisamos de dar muito mais espaço à juventude. Acho que os jovens têm uma visão diferente das coisas", afirma o investigador na Universidade de Oxford. Sendo assim, pede mais humildade à classe política, que tem de ser "capaz" de reconhecer que o desenvolvimento é a prioridade.
"Se não fizermos o esforço coletivo para o desenvolvimento, vamos falhar uma viragem importante numa altura em que o mundo não está à nossa espera. A velocidade das transformações acelera e, portanto, países como a Guiné-Bissau já estão a reboque e acabam por ficar completamente esquecidos, porque já há um cansaço das crises guineenses", diz Carlos Lopes.
Foco nos protagonistas
O também sociólogo critica o excesso de personalização do debate político na Guiné-Bissau, o que põe em causa o interesse nacional.
"Esse excesso de personalização tem a ver com uma coisa muito clara - a falta de solidez das instituições", sublinha. "Quando as instituições não são sólidas, fala-se mais dos protagonistas. Mas quando as instituições têm, de facto, um protagonismo e uma força maior, o papel das personalidades deixa de ser tão polarizante."
O académico, também ligado à Universidade do Cabo, na África do Sul, não quer entrar em polémicas, apontando o dedo seja a quem for. Realça apenas que "o sistema político - ou o processo democrático guineense - é muito deficitário, com contornos medíocres", precisamente porque as instituições não são muito sólidas.
"Não é por acaso, por exemplo, que cada pessoa tem uma visão diferente da Constituição", refere Carlos Lopes.
O ex-secretário-executivo da Comissão Económica das Nações Unidas para África afirma, por último, que é importante o apoio da comunidade internacional para o fim das crises políticas, mas considera antes fundamental a mudança de mentalidade dos dirigentes guineenses.
"O debate está à volta disso: vamos ou não ter eleições íntegras?", questiona. Carlos Lopes exorta os guineenses a terem esperança no seu futuro.