Abel Chivukuvuku cria CASA e ambiciona presidência angolana
13 de março de 2012Abel Epalanga Chivukuvuku tem 54 anos e é conhecido por muita gente como o “jovem turco” ou o “ Obama de Angola”.
Decidiu deixar a UNITA [União Nacional para a Independência Total de Angola], o maior partido da oposição do país, que lhe deu projeção nacional e internacional e com o qual mais tarde se incompatibilizou. Após o "divórcio", Chivukuvuku pretende avançar com o seu próprio projeto político.
E, por isso, o político angolano criou um novo partido, com a sigla CASA, Convergência Ampla de Salvação de Angola, que será apresentado esta quarta-feira (14.03) em Luanda.
A nova força política da oposição angolana conta com dezenas de apoiantes de pequenos partidos, de organizações da sociedade civil e de milhares de pessoas anónimas. Segundo Abel Chivukuvuku, CASA é um projeto nacional que visa defender o interesse dos angolanos e, assim, combater o que considera como a elite política corrupta no poder.
Chivukuvuku quer vencer nas presidenciais
A decisão do antigo quadro de topo da UNITA de criar um novo espaço político vem dar uma reviravolta ao cenário angolano, a seis meses das próximas eleições gerais, previstas para setembro.
Mas o curto espaço de tempo até ao escrutínio não abala a intenção de Abel Chivukuvuku se apresentar como candidato às eleições presidenciais. Uma ambição que considera como “normal”, pois “a nossa Constituição estabelece que todo cidadão, com determinada base de critérios, possa concorrer. Portanto, não tem nada de anormal. E os angolanos também têm a ideia daquilo que querem. Por isso, temos que estar todos serenos. Vamos às eleições e os angolanos vão escolher”, considera Chivukuvuku.
Há vários anos que a figura de Chivukuvuku é descrita como uma eminência parda na política de Angola e a única capaz de defrontar a hegemonia do presidente angolano José Eduardo dos Santos e do MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola], o partido no poder desde a independência do país, em 1975.
Derrota do MPLA é possibilidade real, acredita dissidente
Com horizonte nas eleições gerais de Angola, Abel Chivukuvuku mostra-se otimista e encara a derrota do MPLA uma possibilidade real e normal: “Há eleições, se o MPLA perder, perdeu, vai para a oposição. E tem que encarar isso como algo normal. O MPLA não estará eternamente no poder, vai perder as eleições”. Mas antes do escrutínio, o político apela à calma, pois “não precisamos de ficar agitados”.
Mas a agitação poderá sacudir a UNITA, partido que Abel Chivukuvuku deixa e do qual já foi já chefe da bancada parlamentar, após vários episódios de incompatibilidade com o atual líder Iasías Samakuva.
Hoje descrita como uma “manta de retalhos” com escândalos internos e alegada apatia nas críticas ao poder, a UNITA pode sair fragilizada. Abel Chivukuvu nega falar dos seus antigos correligionários e faz um apelo: “Peço apenas que todos aqueles que estiverem interessados que fiquem atentos para aquilo que eu vou comunicar aos cidadãos [em 14.03]”.
Hora de avançar
Nas últimas semanas Abel Chivukuvuku esteve em vários países africanos e europeus, com a intenção de reunir ideias e de criar alianças. Segundo o político, após a reflexão, chegou a hora de avançar: “Entendo que os nossos passos têm que ser sempre bem medidos, depois de profunda reflexão, de auscultação a muitos cidadãos, companheiros, amigos, familiares e [uma vez] tomada a decisão, fica tomada a decisão!”.
A reentrada em cena de Chivukuvuku é descrita por analistas como uma forma de animar a cena política angolana, mesmo que, como cabeça de lista do seu novo partido, não venha a eleger muitos deputados.
Projeções não oficiais indicam que o político poderá catapultar o seu novo projeto, CASA, para terceira força politica angolana, depois do MPLA e UNITA.
Chega ao fim um percurso de 38 anos de UNITA
Natural de Luvemba, município do Bailundo, província do Huambo, no centro de Angola, Abel Chivukuvuku aderiu à UNITA em 1974. Foi conselheiro do ex-líder do partido do galo negro, Jonas Savimbi. Mas chegou a criticar publicamente Savimbi pelas suas opções de guerra, o que lhe valeu até hoje críticas ferozes dos seus correligionários.
Em 1992, integrou a delegação da UNITA na Comissão Conjunta Político-Militar, mas o fracasso do processo eleitoral desse ano levou o país novamente para a guerra civil. E Abel Chivukuvuku ficou cerca de dois anos sob custódia do regime, em Luanda. Ao tentarem fugir do regime, os seus companheiros foram mortos nos subúrbios da capital angolana.
Mais tarde, entre 1997 e 1998, o político foi líder da bancada parlamentar da UNITA. E com o fim da guerra, em 2002, Chivukuvuku tornou-se secretário para os Assuntos Parlamentares e diretor da candidatura de Isaías Samakuva à presidência da UNITA, no congresso de 2003, onde foi eleito secretário para os Assuntos Constitucionais e Eleitorais.
O afastamento de Chivukuvuku de liderança da UNITA consolidou-se em 2007, quando concorreu isoladamente contra Isaías Samakuva para a presidência do partido e com quem se incompatibilizou posteriormente. A derrota diminuiu o seu espaço no interior do partido. Bateu com a porta, 38 anos depois, abrindo caminho para o CASA.
Autor: Manuel Vieira (Luanda) / Glória Sousa (com agência Lusa)
Edição: Renate Krieger