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500 milhões de dólares resolvem a crise em Angola?

Cristiane Vieira Teixeira11 de julho de 2016

De acordo com a Bloomberg, Executivo angolano estaria a negociar empréstimo com fundo de investimento britânico Gemcorp. Analista diz que o dinheiro não é suficiente e questiona benefícios para o país.

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Foto: picture alliance/J. Greve

O Ministério das Finanças angolano confirmou esta segunda-feira (11.07) que o Governo descartou um apoio financeiro do Fundo Monetário Internacional (FMI), no âmbito do pedido de assistência solicitado oficialmente em abril, justificando a decisão com a subida da cotação do petróleo e acrescentando que irá continuar o seu programa de assistência técnica com o FMI.

Entretanto, segundo informações publicadas pela agência de notícias financeiras Bloomberg, o fundo de investimento Gemcorp Capital LLP, com sede em Londres, está a negociar com o Governo de Angola um empréstimo de 500 milhões de dólares. O dinheiro permitiria ao Ministério das Finanças angolano comprar medicamentos e alimentos.

Ainda de acordo com a Bloomberg, um porta-voz do Ministério, em Luanda, e a Gemcorp preferiram não comentar a notícia.

A economia angolana foi atingida pela queda nos preços do petróleo desde meados de 2014. Atualmente o barril do crude é vendido no mercado internacional a cerca de 50 dólares.

A este respeito, a DW África entrevistou o economista e professor da Universidade Católica de Angola (UCAN), Manuel José Alves da Rocha.

DW África: Considerando que Angola abriu mão de um acordo financeiro com o Fundo Monetário Internacional, caso se concretize, o empréstimo de 500 milhões de dólares pelo fundo de investimento britânico Gemcorp seria suficiente para aliviar a crise financeira que o país enfrenta?

Angola Lebensmittel in Luanda
Empréstimo seria usado para compra de alimentos e medicamentosFoto: DW/P. Borralho Ndomba

Manuel Alves da Rocha (MAR): Acho que é muito dinheiro. Agora, também não sei o que esta instituição financeira britânica exigiu em troca para conceder esse financiamento na ausência de um acordo com o FMI. Cada vez que nos apresentamos no mercado financeiro internacional para contrair empréstimos, as taxas de juro estão cada vez mais elevadas, porque a confiança do sistema financeiro internacional em Angola tem vido a diminuir.

DW África: Este empréstimo seria uma boa alternativa para Angola?

MAR: Não sei se, neste caso em concreto, foi ou vai ser concedido por outras razões - ligações a Angola, a dirigentes angolanos, ao sistema bancário angolano, condições ou garantias que podem ser obtidas. O que lhe sei dizer é que instituições como o Banco Mundial, instituições ligadas à União Europeia, ao Banco Africano de Desenvolvimento seguramente terão muita dificuldade em conceder empréstimos a Angola sem o chapéu do FMI.

DW África: Que sinal o Governo angolano passa ao optar por um empréstimo do Gemcorp?

Angola Platz Largo da Mutamba in Luanda
O Ministério das Finanças angolano, no Largo da Mutamba, em LuandaFoto: DW/N. Sul d'Angola

MAR: Continuo a bater no ponto de que a instituição britânica deve ter aqui bons contactos, deve ter aqui boas influências, porque não concebo como é que uma instituição bancária do sistema financeiro internacional concede um empréstimo a Angola sem levar em atenção que é um país que tem dificuldades orçamentais tremendas, em que a economia está a funcionar tremendamente mal porque não tem divisas para fazer importações, [e onde há] sérios problemas em termos de condições de vida e a taxa de inflação pode vir a situar-se nos 50% ao final deste ano. Seria diferente, no caso de Angola ter um acordo com o Fundo Monetário Internacional. Este acordo poderia garantir que o governo iria aplicar uma política orçamental, uma política monetária, tendente a recuperar, em dois ou quatro anos, os fundamentos macroeconómicos do país.

DW África: Diante deste cenário, espera que Angola volte a tentar um apoio chinês no futuro próximo e privilegie este tipo de parceiros em detrimento das instituições financeiras convencionais?

Ölproduktion in Angola
Petróleo é a principal fonte de renda da economia angolanaFoto: MARTIN BUREAU/AFP/Getty Images

MAR: Os chineses não podem estar a financiar Angola sempre que Angola tenha um problema qualquer. Os chineses também têm as suas limitações. Aquilo que os chineses têm dito é que a China também está em dificuldades. Está com taxas de crescimento bem abaixo daquelas a que nos habituou. Portanto, o recurso à China também não pode ser sitematicamente o recurso que Angola tenha para colmatar essas dificuldades.

DW África: Qual seria a relação entre uma solução para a crise económica angolana e as eleições previstas para 2017?

MAR: Neste jogo democrático, o Governo obviamente pretende manter o poder político. Então, até lá, há-de tentar obter este tipo de facilidades. Evidentemente que há aqui também uma questão eleitoral. Só que depois, somos nós que iremos ficar com esse ónus de pagar os 500 milhões de dólares.

DW África: Apesar dos 500 milhões de dólares, Angola ainda permaneceria em grandes dificuldades económicas?

MAR: A única fonte de financiamento da nossa economia é a venda de petróleo no mercado internacional. Angola necessitaria que o preço do petróleo estivesse em 90 dólares o barril. Atualmente, o barril está a 50 dólares. Faça a diferença entre 90 e 50, multiplique por 1.850 mil barris de produção e exportação diária de petróleo e veja a quantidade de milhares de milhões de dólares de que Angola necessita.

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