40 anos 40 murais: a revolução nas paredes de Lisboa
40 murais foram pintados durante 2014 para celebrar os 40 anos do 25 de Abril. Imagens que lembram as lutas do passado e do presente. A ideia é do muralista António Alves, conhecido pelos seus murais do partido MRPP.
Mural em Alcântara - Lisboa
Cerca de 600 m² de mural em Alcântara, Lisboa. Este é o primeiro de 40 murais a serem pintados durante 2014, ano em que celebram os 40 anos do 25 de Abril. Imagens que lembram as lutas do passado e do presente. A ideia é do muralista António Alves e foi concretizada com a colaboração de associações como a Associação Portuguesa de Arte Urbana (APAUrb) ou o Centro de Estudos Operários (CEO-ML).
Desabafo através de murais políticos
António Alves viveu intensamente o 25 de Abril de 1974 e sempre foi politicamente ativo. E já na sua adolescência começou a pintar murais políticos, como membro do Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado (MRPP). Aos 56 anos continua a desabafar nas paredes e é o diretor artístico da iniciativa "40 anos 40 murais".
Por amor à revolução
A iniciativa "40 anos 40 murais" não tem fins lucrativos e baseia-se essencialmente em trabalho voluntário. Os organizadores pretendem publicar um livro no final da iniciativa com os diferentes murais. No entanto, a iniciativa não teve qualquer apoio institucional do Estado Português. Os materiais para os murais são fruto da recolha de fundos e da venda de materiais como t-shirts.
Trabalho de voluntários
Dia e noite voluntários, amigos e passantes assumiram o projeto e juntaram-se para pintar o primeiro mural que é um índice dos próximos. Gerações que viveram o 25 de Abril e os netos dessas gerações pintam o passado e o presente. Em março, durante a primeira semana do projeto, cerca de 70 pessoas pincelaram a revolução no mural de Alcântara, bairro lisboeta conhecido pelo seu passado industrial.
Lembranças das lutas de independência
Os murais fazem um trajeto pelos episódios da guerra colonial e dos heróis e mártires do Estado Novo. O campo de concentração do Tarrafal, no norte da Ilha de Santiago em Cabo Verde, serviu para encarcerar guerrilheiros e lutadores pela independência das colónias portuguesas em África.
Arte projetada
Durante a noite também se pintava o mural com a ajuda de projetores. As imagens projetadas eram preenchidas com tintas pelos artistas e amigos da iniciativa. Cerca de 70 pessoas pintaram o mural em Alcântara. Souberam da iniciativa do muralista António Alves por amigos ou pelas redes sociais.
Estudante assassinado pela PIDE
Em outubro de 1972, a PIDE, a polícia política portuguesa, assassinou o estudante de Direito de 26 anos, José António Ribeiro Santos. O jovem era politicamente ativo e já estava na mira da PIDE. O funeral foi uma grande manifestação em que participaram milhares de populares e estudantes que mostraram a sua oposição à PIDE. A memória de Ribeiro Santos faz parte do painel de Alcântara.
Lembrando Amílcar Cabral
Amílcar Cabral também faz parte do painel de Alcântara. Assassinado, em Conacri, a 20 de Janeiro de 1973, Cabral será sempre lembrado como um dos fundadores do Partido Africano da Independência da Guiné e de Cabo Verde (PAIGC) e um dos mais importantes líderes da luta de libertação dos povos africanos. A sua imagem foi pintada por vários artistas que participaram no projeto em Lisboa.
Protestos atuais
Neste painel os artistas chamam a atenção para a situação dos estivadores do porto de Lisboa que protestaram contra o despedimento de 47 profissionais em 2013. As docas mais importantes do Porto de Lisboa ficam a poucos metros do painel e também se situam no bairro de Alcântara. As paredes continuam a ter espaço para os desabafos.