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África pode ficar prejudicada com dólar mais forte

Nik Martin
22 de novembro de 2024

Como é que a subida do dólar pode prejudicar as economias em desenvolvimento durante o mandato de Donald Trump? Analistas preveem dificuldades acrescidas para países africanos altamente endividados.

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Donald Trump, Presidente dos EUA
Que efeitos terão em África as políticas económicas de Donald Trump, no seu novo mandato?Foto: Gerald Herbert/picture alliance

As políticas de redução dos impostos previstas para osegundo mandato de Donald Trump, que inicia funções a 20 de janeiro como o 47º Presidente dos Estados Unidos, podem levar a uma subida do dólar norte-americano, provocando consequências de longo alcance para o resto do mundo, aumentando os custos de importação dos produtores e a inflação.

Tal facto também dificultará o serviço da dívida de muitos países de baixa renda, especialmente, os empréstimos em dólares, que podem ser pagos com moedas locais mais fracas.

Karim Karaki, chefe da equipa de recuperação e transformação económica do Centro Europeu de Gestão de Políticas de Desenvolvimento explicou, em declarações à DW, como é isso aconteceria.

"Mais de 50% da dívida soberana dos países de baixa e média renda é denominada em moedas estrangeiras, principalmente o dólar. Com a alta do dólar, o custo do serviço da dívida aumenta", afirma. "Isso significa mais gastos do governo com o serviço da dívida e menos com investimentos para o desenvolvimento", adianta Karaki.

Neste contexto, África seria uma das regiões mais afetadas pelos efeitos do dólar mais forte. Neste momento, nove países já têm dificuldades em pagar as suas dívidas. Outros 10 estão em "alto risco" de insolvência, de acordo com o Banco Mundial.

Karim Kiraki afirma que, quando o dólar se valorizou nos últimos dois ou três anos, os países passaram a gastar mais com o serviço da dívida do que com a saúde e a educação. "Além do impacto nos setores sociais, isso reduz a capacidade do país investir e apoiar o seu setor privado, bem como a transformação económica, o que também tem impacto na criação de empregos", explica Karim Karaki.

Dólar norte-americano
Quando o dólar se valorizou nos últimos três anos, os países passaram a gastar mais com o serviço da dívida do que com a saúde e a educação, segundo Karim KirakiFoto: La Nacion/ZUMA/picture alliance

Difícil acesso a capitais

Numa pesquisa publicada esta semana, David Omojomolo, economista de mercados emergentes na Capital Economics, sediada em Londres, alerta que alguns países africanos terão dificuldades em recuperar o acesso aos mercados de capitais globais.

Vários governos africanos, entre eles do Quénia, Zâmbia, Gana e da Etiópia, estão impedidos de aceder a capitais nos mercados financeiros mundiais devido ao seu alto endividamento.

David Omojomolo lembra que o Governo angolano advertiu recentemente que estava a esforçar-se para pagar o serviço de sua dívida e, ao mesmo tempo, financiar os gastos diários. Já o Governo do Quénia foi forçado por protestos de rua, em junho passado, a recuar na sua proposta de aumento dos impostos para reduzir a dívida nacional. Desde então, Nairobi comprometeu-se a recorrer ao serviço da dívida para compensar o défice orçamental.

Etiópia, República do Congo, Moçambique, Somália, Sudão, Sudão do Sul, Zimbabwe e o Chade foram classificados pelo Banco Mundial, em 2023, como Estados em dificuldades com a dívida. A Zâmbia não pagou cerca de 12 mil milhões de dólares de dívidas em 2020, no auge da pandemia da Covid-19 e está agora a restruturar a dívida com credores internacionais e privados, incluindo a China e a França.

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